terça-feira, 4 de maio de 2021

Lançamento em breve

 


 

 A Arte de Desmantelar Calendários

Lançamento em julho/2021



Água em movie


o que me comove

a água movie
cinema de peixe
mudo.
na casa de água
nada, nada
senão os cataventos
enxugando mágoa.
milagre de tarrafas
lançadas às nuvens.







A vertigem do espelho

I
Pesam sobre meus ombros
a vertigem dos espelhos,
o cansaço da repetição da pedra
e os terremotos que escondo
soterrados sob o solo da memória.
e a boca convocando vulcões
para a convulsão dos coágulos.
II
Acender grisalhos
no espelho vermelho.
Eu me acostumei
com o desconhecido,
com o que vejo e não enxergo.
Tenho a visão pálida
do paraíso e tudo
que nele nego.
Semeei serpentes
engolindo luas,
línguas de fogo
na tua cova de mastigar
as ervas do
autoconhecimento,
ruminei os venenos da traição.
Ainda sou apenas
um quarto escuro
acendendo meus grisalhos
e esfregando meus vermelhos.
III

Do avesso, lado que ainda desconheço,
todos os desertos de mim marcando o compasso
dos relógios de areia.
O espelho me olha e eu cá-olho nele
vesga visão que não enxerga um palmo
adiante do nariz.
Especular a matriz, os calendários das histórias
não contadas e os arabescos, condição do que me ocupo
para reconhecer de que forma permaneço ilícito neste corpo.
Cordas de sol tocam os sinos
das lonjuras dos tempos
e a eternidade das sombras desenhando
miríades medidas nas patas dos camelos.
Os camelos mastigam ventos
e ruminam paciência na solidão áspera
das noites silenciosas onde escondo minhas vertigens.
Estilhaços, fragmentos de luz.

 Nósdosossos

Nossosnós amarrados
no arquivo-morto dos porões.
Nossosossos empilhados
porosos mal arados
no solo da solidão.
Desatados somos
o contrário dos iguais.

Fosforescência
no fósforo dos fósseis
fôssemos a luz antecipada
no diálogo dos abismos.
O avesso de dentro
desfia a luz em ponto de cruz.
Agulhas no feixe de músculos
para a desordem dos ossos
na fogueira dos acúmulos.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Mãedrinha

XÔ ME APRESENTAR:

SOU MÃEDRINHA. SOU TÃO PEQUENININHA, MAIS TÃO PEQUINININHA, QUE NEM PRECISO DE SOMBRINHA OU DE VIZINHA.

SUA A FADA MADRINHA. SOU TODA SOZINHA, SOU DE TODAS AS ÁGUAS, SE TODAS AS ASAS, DE TODOS OS VENTOS.

MESMO SOZINHA, TÔ DENTRO E FORA DA CrOZINHA. NO JARDIM, SOU SENTINELA E PLURAL.

SABE
O EU QUERIA SER MESMO?
EU QUERIA SER SEM OSSO,
SER ASSIM, SÓ MOLINHA
PRA DESLIZAR SOBRE AS SUPERFÍCIE, AS PEDRAS, OS AZULEJOS. EU QUERIA SER SÓ MINHA, MINHA MESMA, DE SE BASTAR DE SI E ME ESPALHAR NOS ESPELHOS DAS SOMBRAS COM SUAS FORMAS DE FUGIR E DE BRINCAR...

MAS PRA SER SOZINHA
EU TERIA QUE ME AGUENTAR
SEM A COMPANHIA ALHEIA, DAS ERAS E DAS TREPADEIRAS, QUE HOSPEDAM BORBOLETAS PRA ESPIAR O MUNDO LÁ FORA, POR CIMA DO MURO.

AI, ESSA CONVERSA TÁ ME DANDO SONO. NUM DÔ MÊRMO PRA ESSAS INVERTEBRÃNÇAS. MAS EU QUERO SER SOZINHA PRA NÃO TER SEQUER VIZINHA.

NÃO, NÃO. VOLTE AQUI. ANTES DE ME DESPEDIR
VOO ME DESPIR DAS PALAVRAS E ME COBRIR COM O HÁLITO DA CENTELHA QUE NOS ABRASALA POR INTEIRA.

EU SOU TUDO QUE O NADA PERMITIU ENCHER: AÇUDE, POÇO, CACIMBA, RIO E MAR.

EU SOU UMA ESTRELINHA, TOCO SINO, EMBALO SONO, SOU SÓ SUA COMPANHIA. SOU A FADA QUE TE FAZ SONHAR NO COLO DA PAZ....