A vertigem do espelho
I
Pesam sobre meus ombros
a vertigem dos espelhos,
o cansaço da repetição da pedra
e os terremotos que escondo
soterrados sob o solo da memória.
e a boca convocando vulcões
para a convulsão dos coágulos.
II
Acender grisalhos
no espelho vermelho.
Eu me acostumei
com o desconhecido,
com o que vejo e não enxergo.
Tenho a visão pálida
do paraíso e tudo
que nele nego.
Semeei serpentes
engolindo luas,
línguas de fogo
na tua cova de mastigar
as ervas do
autoconhecimento,
ruminei os venenos da traição.
Ainda sou apenas
um quarto escuro
acendendo meus grisalhos
e esfregando meus vermelhos.
Do avesso, lado que ainda desconheço,
todos os desertos de mim marcando o compasso
dos relógios de areia.
O espelho me olha e eu cá-olho nele
vesga visão que não enxerga um palmo
adiante do nariz.
Especular a matriz, os calendários das histórias
não contadas e os arabescos, condição do que me ocupo
para reconhecer de que forma permaneço ilícito neste corpo.
Cordas de sol tocam os sinos
das lonjuras dos tempos
e a eternidade das sombras desenhando
miríades medidas nas patas dos camelos.
Os camelos mastigam ventos
e ruminam paciência na solidão áspera
das noites silenciosas onde escondo minhas vertigens.
Estilhaços, fragmentos de luz.
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