quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dobradiças de Veludo

janela. jaz nela o vão
de todas as esperas

o vôo embalsamado
das aves-primavera

janela de espiar
as moças (donzelas)
indo para a igreja
domingo

janela de adular o vazio
dentro da tarde que se vai
na silhueta do infinito
como um grito amarelo

(a saudade levada no bico)

janela de olhos vasculhando
o defunto em sua caixa
de música tocando seus ossos
de encontro às raízes que plantamos
sobre o cálcio da solidão
do sossego do gesso

pássaros assombrados
de asas de fogo fecham
a janelacônica

voo de enxugar o gesto
com o ferrolho da infância
no vão das coisas que passam
e ficam presas dentro da gente

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