quinta-feira, 19 de maio de 2011

Só mulher sabe mentir - Xico Sá

Que diferença da mulher o homem tem? Espere ai que vou dizer, meu bem. Aproveito a epígrafe à Jacson do Pandeiro para explorar, na obrigação de reles cronista de costumes, o pecado da mentira, essa obviedade mais velha que a palavra e a saliva.
Porque dele ninguém escapa. É o mais ecumênico e democrático. Por pensamentos, obras e omissões. Somos amorosamente corruptos, repito um velho mantra.
Com os meios virtuais, meu glorioso São Tomé, ai é que a mentira alonga suas pernas de centopeia mesmo. Para dar conta da sua nova amplitude, teria que ser revisto e ampliado o mandamento específico das tábuas sagradas.
Mas que diferença da mulher o homem tem? Como em quase tudo na vida, as fêmeas são mais sofisticadas, labirínticas, possuem a arte da burla e das ilusões mais afiladas. O macho abusa amadoristicamente, como se fosse um recurso tão natural quanto a água e o óleo de peroba.
Até os melhores exemplares da raça masculina cometem as suas trapaças, dissimulações, subterfúgios, maquiagens na face da quase sempre insuportável realidade. Do presidente da corte superiora ao trombadinha. A diferença é que uns ainda coram, enquanto outros nem se incomodam com as faces infestadas pelos cupins do moralismo.
Todo esse lero-lero para dizer que folheei dia desses, na espera do dentista, “101 mentiras que os homens contam _e por que elas acreditam” (ed. Ediouro), da norte-americana Dory Hollander, um clássico da psicologia vagabunda.Aliás, nem no dentista foi, o fato deu-se no consultório do homeopata, quer dizer, no psiquiatra...
Minto. Comprei mesmo o livro no sebo, por dever de ofício, e o devorei feito traça. Que mentira que lorota boa, seu intelectual de meia tigela, seu Zelig, que fica inventando desculpa para as leituras mais banais.
Dane-se, comprei, li e gostei, pronto. Melhor assim. E quer saber, é um clássico. Dona Hollander fez uma pesquisa séria, ouvindo muita gente, sobre nossas mentiras, nem sempre sinceras, e nossas piores promessas.
Vai de um inocente "estou cansado demais" a um irresponsável "eu te amo" -dito na hora errada à mulher errada, no lugar errado. Começo, meio e fim e a nossa cuca ruim, como na canção do príncipe Ronnie Von.
Por que elas acreditam, então? A psicóloga arrisca respostas: as mulheres acham que ceticismo e romantismo não podem andar juntos, sob pena de estragar as coisas.
Dona Hollander nos separa em dois blocos: os perigosos e, digamos, aéticos, que abusam da mentira, que enganam por "esporte e lucro", de forma inescrupulosa; os mentirosos ocasionais, que se mostram dissimulados sob pressão e desviam a realidade com pequenas lorotas, artifícios para se livrar da "fúria feminina".
Nessa categoria estão também aqueles que poderíamos chamar de canalhas líricos, categoria aqui já tratada, galanteadores como o personagem Bertrand, do filme "O homem que amava as mulheres", do xará Truffaut.
Dublês de d. Juans, os Bertrands apenas enfeitam, douram a realidade nas suas peregrinações em busca das crias das suas costelas.
Algumas das 101 melhores e mais ingênuas mentiras ditas para as moças:
"As únicas fantasias sexuais que tenho são com você".
"Você é maravilhosa, merece alguém melhor do que eu".
"Relaxe, é apenas uma amiga".
"Vou deixar minha mulher".
"O que me atrai em você é a sua mente".Etc,etc, ad infinutum.
E você, descarado rapaz, e você, doce rapariga em flor, consegue viver sem mentir? Não? Então conta uma aí pra mim.

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