SOLILÓQUIO
Gilson Cavalcante
Um ser só
sabe em si
o silêncio
de repartir
o dom da dor.
A vida divida é dádiva
e a dívida é dúvida
que não se compartilha.
Sou a sorte jogada
pelas ruas e becos.
Sou a arte desfigurada
pela inscrição nos muros.
No meu interior há ainda pecados capitais a saldar.
Sou ainda a parte alada
da poesia concreta,
a boca-de-lobo
à espreita dos ratos
e dejetos,
a solidão
das madrugas frias
vigiada pelo galos,
o conteúdo exagerado
das lembranças esquecidas
sobre o jirau de aparar estrelas.
De ser tão só
aprendi a criar asas
pra assustar meus fantasmas.
Agora posso dormir
em minha companhia.
Só os sinos me estendem
a alma além das esferas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário