quarta-feira, 1 de outubro de 2008

SOLILÓQUIO

SOLILÓQUIO

Gilson Cavalcante

Um ser só
sabe em si
o silêncio
de repartir
o dom da dor.

A vida divida é dádiva
e a dívida é dúvida
que não se compartilha.

Sou a sorte jogada
pelas ruas e becos.

Sou a arte desfigurada
pela inscrição nos muros.

No meu interior há ainda pecados capitais a saldar.

Sou ainda a parte alada
da poesia concreta,
a boca-de-lobo
à espreita dos ratos
e dejetos,

a solidão
das madrugas frias
vigiada pelo galos,
o conteúdo exagerado
das lembranças esquecidas
sobre o jirau de aparar estrelas.

De ser tão só
aprendi a criar asas
pra assustar meus fantasmas.

Agora posso dormir
em minha companhia.
Só os sinos me estendem
a alma além das esferas.

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