quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sou o que desconheço

Gilson Cavalcante


Sou o que desconheço.
Desde cedo, muito cedo
inventei de vestir os avessos
dos caminhos e suas bifurcações.
Sou o que desconheço, sim.
É que o avesso me vestiu a alma muito cedo.
Ando rasgando endereços, fugindo dos laços.
Mal amanheço.
Sou, sim, repito, o que desconheço,
o avesso do espelho nos olhos teus.
Por isso, me esclareço nas noites de insônia,
quando me entrego completamente
sem os adereços da hipocrisia.
E tem mais:
podem me achar louco,
lúdico, varrido.
Mas são nessas circunstâncias
que amo as pessoas, os bichos,
a natureza. Nunca me dou por vencido.
O resto que me sobra
é asfixia e sombra.
Deixem-me partir, estou atrasado.
Levo para o futuro
a fisionomia macia dos parafusos
vou apertar meu outro lado.

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